Até o presente momento vivi tentando evitar qualquer tipo de
atitude ou ação que trouxesse consequências a minha vida.
Tendo como base minha origem, posso concluir que venci, não
me droguei, não engravidei, sempre trabalhei, não fumei, me formei, casei,
comprei uma casa, tirei carta, fiz inglês, pós-graduação, especialização, fui líder,
coordenei, fui saudável, fiz exercícios, li todos os livros, fui a eventos
educacionais, fiz doações, ajudei os pobres, acolhi animais, cuidei de mim e
dos outros, tentei ser educada e grata, inclusive religiosa.
E como consequência sinto que não vivi, sinto que não quebrei
a cara, me sinto ingênua e despreparada para adversidades, não aquelas de sobrevivência,
essas eu tiro de letra e nem é motivo de orgulho, pois não foram optativas.
Não consigo definir meu despreparo, porque talvez ele seja
intangível, como quando você nunca recebeu um cafuné e ao receber do primeiro “idiota”
acha que é amor ou quando vê uma constituição familiar como a sociedade dita e
julga ser melhor do que a sua, a abrangência é um pouco maior que essa, mais profunda,
mas não consigo me expressar.
Não posso me queixar da minha criação, mas minha mãe sempre
foi muito rígida comigo e ainda é, na minha vã tentativa de subversão tenho a
decepcionado diariamente, isso porque ela é regida por crenças religiosas.
E olha que eu tentei, tentei mesmo, mas como dizem os
evangélicos, talvez não seja “escolhida”, pois nunca senti nada de sobrenatural.
Fico confusa, pois essa rigidez não me permitiu crescer
normalmente, aproveitar períodos da minha juventude, eu só pensava em trabalhar,
estudar, casar e atingir metas.
Não houve tempo para fazer bobagens, experimentar entre o
certo e o errado e decidir por si só se eram mesmo, sem interferência da
sociedade, sem interferência familiar ou religiosa.
Dizem que a velhice está na nossa cabeça e isso não é
totalmente verdade, deixamos de fazer muitas coisas depois de certa idade, pois
nossas ações atingem outras pessoas e é isso que nos ata, a consideração ao próximo,
que na verdade sempre existiu, mas que com o passar do tempo é maior.
Em resumo, fiz tudo o que deveria ser feito, conforme manda o
figurino e não vi recompensa extraordinária e hoje o fato é, qual seria o
tamanho da minha ingratidão ou inércia?
E a pergunta que não sai da minha cabeça é:
Viver é só isso?
Ninguém me basta, nada me basta e eu me sinto tão pouco...
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